19 de dezembro de 2013

"E aí? Tranquilo? Qué uma ajudinha aí?”




Quando ouvi isto, confesso que a frase “embelezou” minha tarde que se iniciava. Um homem estava junto ao carro com problemas na via, foi abordado com um caloroso: “E aí? Tranquilo? Qué uma ajudinha aí?”.

Percebi que algumas pessoas convivem mais com esta frase que outras, vai de acordo com o ambiente em que convive, mas a beleza da “ajudinha” é quando ela é gratuita, a ajuda pelo simples prazer de ajudar, e ajudar é sim um prazer.

A lei, constituição, deveres e direitos, trazem ordem à sociedade, mas é tão bom saber que alguém vem me auxiliar sem que eu precise assinar um contrato de direitos e deveres... Isto dá um tom de que fazemos parte não de uma grande empresa mundial, mas de uma família mundial, somos humanos, gente, pessoas, e pessoas não vivem somente de deveres e direitos, mas de amizade e companheirismo também. E, além disso, acredito que “ajudinhas” são questão de justiça, devo também oferecê-la a outros, pois a vida me enche de “vai uma ajudinha aí?” Alguém poderá dizer que a vida não deu tréguas, mas que ela lutou duramente por tudo o que teve... Aí eu pergunto: “Será mesmo?”. É só levá-la a voltar no tempo ou a olhar melhor à sua volta, sair um pouco da esfera em torno ao próprio umbigo, e perceber que a vida é cheia de “ajudinha aí”, além disso, se não for por fazermos parte da mesma família humana, onde fazer algo pelo outro é dever natural, ou virtude adquirida, podemos e devemos ajudar gratuitamente os outros por questão de justiça, pra devolver à vida todas as vezes em que, através das pessoas, ela nos disse: “E aí? Tranquilo? Qué uma ajudinha aí?”


Marcia


11 de dezembro de 2013

E se o tempo passa de qualquer forma...




Hoje faz 3 meses que coloquei minha vida dentro de meia dúzia de sacos plásticos a vácuo e fiz tudo caber dentro de dois volumes de 32kg. Faz 3 meses que deixei a 8300km minha casa, meu amor, família, amigos, cães, conforto, roupa lavada, sopa pronta no fogão e ainda  transformei um curso que já era longo em algo 12 meses maior. Vendo a minha antiga vida passar, sabendo que ela não vai esperar por mim e não há mais caminho de volta.


Que bom.


Que bom que tive a coragem que precisava, na hora que precisei. Que faço isso com o apoio da minha família, amor e amigos. E tenho essa chance que nem todos têm. Nunca mais serei a mesma e fico feliz com isso.


Aprendi que as “pessoas”, principalmente os “momentos com as pessoas”, são mais importantes que as “coisas”. Aprendi que usar por favor, obrigado e com licença não nos deixam mais pobres, muito pelo contrário. Que uma instituição de ensino que se preze precisa, acima de tudo, respeitar seus alunos. E que, de forma mútua, os alunos devem ter o mais imenso respeito pelos professores. Que diversas culturas podem e devem viver em harmonia num mesmo ambiente, sem rótulos, sem segregações e sem a necessidade de abrir mão da sua pátria de origem. Vejo também, com tristeza, que meu país está mais de 50 anos atrasado na cultura do esporte, e isso me entristece de verdade. O país do futebol, e das olimpíadas, não tem hoje o que eles já tem aqui (Canadá) há décadas. Mais uma prova que nossos atletas, técnicos e profissionais do esporte são verdadeiros guerreiros por ainda assim chegarem tão longe.


Vejo meus próximos 9 meses de forma muito promissora e especial. Quero aprender alguma coisa, mesmo que pequena, todo dia. A saudade é grande, mas o tempo está passando muito rápido. E se o tempo passa de qualquer forma, por que não fazer alguma coisa diferente com ele?  


“Uma mente que se abre a uma nova ideia jamais retorna ao seu tamanho original.” (A. Einstein)

Isabel Ziesemer Costa

4 de dezembro de 2013

Família II


Um. Um. Uma. Um. Uma. Uma. Um.
Uma e - eu.
(nóve? sim
do mesmo pai e da mesma- sim.)
A moça que trabalha, os cuidadores
nada de cachorros, e o jardim?
e a mãe que trata de tudo

O balanço, o sofá, a cama
o cafezinho, trabalho, trabalho
- mas primeiro a oração
o sorvete com doce de leite,
a música tocando todo sempre
e a mamãe que cuida de tudo

Os exames, o gás, o jardineiro
os médicos dia sim dia não
a mágica malabarista de tirar daqui e pôr ali
o dinheiro. Mas a generosidade o ano inteiro
/Faz o que deves, está no que fazes. Cumpre o pequeno dever de cada instante. 
Transforma em decassilabo heroico a prosa diaria/
a minha mamãe que cuida de nós

Drummond e M.

27 de novembro de 2013

“... generosidade para seguir Tua voz”





Quando estava na novena para N. Sra. Do Perpétuo Socorro, fiquei impressionada com essa frase. Nunca antes havia me dado conta da importância de sermos generosos para seguirmos Jesus Cristo. Imediatamente pensei em o que deveria fazer para me tornar uma pessoa mais generosa.

Ser generoso é colocar as necessidades dos outros em primeiro lugar. Mas fazer isso não é tão simples, pois requer que olhemos e prestemos a atenção às carências dos outros, para então começarmos a ajudá-los. Uma das coisas mais importantes para isso é deixarmos de ocupar o centro do universo.

Para sermos generosos, os outros devem ser o foco mais importante da nossa atenção. Mas quem seriam esses outros? Podem ser os nossos familiares, amigos, vizinhos e colegas de trabalho. Podem ser os desconhecidos, os motoristas no trânsito, as pessoas que querem conversar na fila do mercado, que sentem fome ou frio, ou ainda as que estão sozinhas nos hospitais, asilos e orfanatos. Nesses casos, a generosidade se manifestaria não apenas na doação de recursos materiais, mas na distribuição de carinho, paciência, gentileza e atenção para todos.

A generosidade, de um ponto de vista mais amplo, também se manifesta com a preocupação com o bem estar de todos os seres vivos – inclusive com os que habitarão o planeta Terra nas próximas gerações. Cuidar de animais abandonados, consumir apenas o necessário para que os recursos energéticos e a água sejam suficientes para todos, preocupar-se com a poluição e o acúmulo de lixo, ou ainda escolher a origem de fabricação dos produtos que consumimos e as marcas que não utilizam mão de obra escrava são exemplos de generosidade.

A generosidade é um dos primeiros passos para conseguirmos seguir a determinação de Cristo para amar a todos os indivíduos, porque segundo o que acreditamos no cristianismo, todos somos irmãos.

Ainda tenho muito o que aprender em relação à generosidade, mas acredito que a humanidade nunca esteve tão generosa. São tantos exemplos de trabalhos voluntários, de pessoas e ONGs que se preocupam com a preservação do meio ambiente e de espécies que estão em perigo de extinção, que nós podemos ser otimistas. Se todos nós nos tornarmos um pouco mais generosos a cada dia que passa, a humanidade será muito mais feliz.

Lorena

20 de novembro de 2013

Infinito Particular


- De onde será que tiraram essa ideia de infinito?
O vô interrompeu o silêncio para lançar o desafio. E confesso que nunca havia pensado nisso fora do plano pessoal e da matemática do colégio…

Lembrei da tia Bel contando do Lucas, seu netinho de 2 anos, que tinha estado num rio pela primeira vez.
- E ai, gostou do rio?
- Não tinha jacaré!
- E a água fazia “chuá chuá”?
- Não, a água só passava...

Acho que ao longo da vida desafiamos os infinitos com os quais nos deparamos, sempre descobrindo que há mais além...
Pensando assim, faz sentido isso que dizem que a gente nunca acaba...

Mari

13 de novembro de 2013

A Rosa


- Ganhei uma rosa! Muito obrigada!
- Você vai voltar de carro para casa?
- Sim.
- É porque senão ela vai murchar...
Fiz aniversário faz algumas semanas. Eu sou do tipo de pessoa que gosta de avisar que esta data está chegando. Qualquer presente que ganhamos é uma lembrança, uma mostra de carinho, mostra que somos importantes para alguém.

Fui atender meu primeiro paciente do dia e ele, meio sem graça, me entregou uma linda rosa (comprada pela sua mãe, pois ele tem apenas 6 anos).
- Onde está o cartão?
Ele perguntou (também tinha sido escrito pela sua mãe, mas estava assinado por ele, com nome e sobrenome). Tinha caído no chão.
- Muito obrigada!
Falei desconcertada, afinal, já tinham passado 2 semanas. Coloquei a linda rosa vermelha em um copo com água, para valorizar e mostrar que eu gostei mesmo.
Ao longo daquela manhã, olhei muitas vezes para a rosa. Fui atender minha última paciente e, como tinha feito com os pacientes anteriores, chamei a sua atenção para a beleza daquela flor.
- Não acho!
Respondeu categoricamente.
- Por quê???
Perguntei espantada.
E ela me respondeu com toda a sinceridade que têm as crianças:
- Porque você não me falou que queria ganhar uma rosa de presente de aniversário? Eu que queria ter comprado para você!
Um desconcerto: será que para ela as flores são únicas?
- Gabi, eu te prometo que te avisarei com antecedência o dia do meu aniversário no ano que vem para você comprar uma rosa bem bonita para mim.
Vou cumprir com o prometido, afinal, gostei tanto de receber a rosa. Lembrei-me do Pequeno Príncipe e me senti cativada pela simplicidade que têm as crianças e pela beleza daquela rosa, que realmente é única.



Julia

6 de novembro de 2013

Como o fermento no pão




Minha mãe tirou o pão do forno com frustração, a massa não tinha crescido o suficiente (ela achava que era por causa do frio).
O cheiro parecia o mesmo, o sabor estava diferente.
Perguntei quanto ia de fermento. Apenas uma colher de café, me respondeu.
E uma quantidade tão mínima poderia fazer tanta diferença?


Às vezes a gente tem impressão, até porque os jornais acabam por enfatizar mais as más notícias do que as boas, de que estamos mergulhados num mundo de corrupção e violência. Pensei que se os atos de amor, vivos como o fermento biológico, mesmo que mínimos, atuassem no mundo como o fermento no pão, haveria motivo de sobra para se viver com esperança.


Mari

30 de outubro de 2013

Casa de Brinquedos




"Eu estava brincando na Casa dos Brinquedos..."

Com certeza ao ler esta afirmação muitos pensarão que é uma criança que está falando, pois é muito grande a dificuldade que os adultos têm para brincar no seu cotidiano de responsabilidades. O que felizmente as mães têm a oportunidade de aproveitar. 

A maternidade não é de maneira nenhuma uma brincadeira, já que a responsabilidade se materializa ao ensinar uma criança a tornar-se um bom adulto. Chego a dizer que é uma das maiores responsabilidades que se pode assumir perante o mundo.

Mas, certamente também, é uma grande oportunidade para brincar, não em uma casa de brinquedos miniatura, porque com uma filha de 1 ano e 7 meses em casa descobri que a minha própria casa virou realmente uma casa de brinquedos e que eu acabo sendo uma criança grande, e mais desajeitada que ela.

Eu rolo no chão, engatinho atrás dela, dançamos, brincamos de bola e apesar de já não ter a mesma agilidade eu tento ensiná-la, na sua pouca idade, a desenvolver sua coordenação para poder aproveitar toda a agilidade que a infância lhe dá, que um dia já me deu, mas que eu consigo, como mãe, diariamente rememorar.

Portanto a frase: Eu estava brincando na Casa dos Brinquedos... Não é de uma criança, mas da mãe que pelo menos em algumas horas do dia, volta a ser assim...

Por Daniela

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23 de outubro de 2013

Minha cunhada se mudou



Quando tinha cinco anos mudei de cidade pela primeira vez. Ano que tem faz dez anos que moro longe da minha família. Lembro do sofrimento que era no começo: um chororô a cada despedida, um chocolate a cada saudade. Dizem que o tempo cura tudo, e eu achava que esses 10 anos tinham me curado. Tinha essa ilusão de desapego, de é assim, fazer o que?, de o mundo é muito grande pra se passar a vida num lugar só mesmo...
Algum tempo atrás minha cunhada se mudou de repente. Eu achando que viver era ganhar horizontes e descobri que tinha raízes. Percebi que apesar de ela nunca sair comigo (ô menina atarefada!) eu queria poder continuar chamando. Quando arrancam uma raiz, o buraco que fica no chão é muito grande e a gente cai. E eu, antes valentona, chorei, regando-me e aprofundando-me ainda mais na terra.
BM

16 de outubro de 2013

A Hierarquia do Amor


Há quem acredite que a maior forma de viver o amor é demonstrar afeto, atenção e cuidado por qualquer estranho que cruze seu caminho.
Muitas vezes, isso é um grande engano.

Devemos sempre nos lembrar que somos responsáveis por quem cativamos.
Penso que só a vivência da responsabilidade nos faz amadurecer a ponto de amar verdadeiramente qualquer estranho que cruze o nosso caminho.

Não podemos nos iludir com uma “ideologia do amor”, o amor só existe na vivência.
E apesar de universal, demanda uma hierarquia.
Se não nos lembramos de incluir na nossa rotina ações para cada pessoa considerando os diferentes níveis de responsabilidade que temos para cada uma, não estamos vivendo o amor…


Alice

9 de outubro de 2013

De mudança


Há algumas semanas  eu arrumava as minhas coisas pra me mudar de cidade. Foi uma coisa meio repentina, uma oportunidade que surgiu de repente e que pedia uma resposta quase imediata. Eu não tinha muito tempo pra preparar tudo e o meu volume de bagagens deveria ser, digamos assim, modesto (afinal, não estava exatamente disposta a pagar pelo preço exorbitante do excesso de bagagem). Pra resolver esse "drama", incorporei a máxima  das mudanças: "vou levar comigo só essencial".
Obviamente não durou muito tempo. Tive várias crises do tipo "meu Deus, quero levar tudo!" ou de "tanto faz, não quero mais me mudar mesmo". Mas no fim, quando tudo estava finalmente pronto, eu percebi que o que nos é realmente essencial não é algo que levamos nas malas. 

Adélia

3 de outubro de 2013

Dissertando




Lá estava eu odiando uterinamente a minha dissertação de mestrado que não engrena. Já vão dois meses que não consigo dar uma cara mais sustentável pra coisa. Peguei aversão a tudo o que diz respeito a ela: os livros que estou lendo, os meus rabiscos idiotas nas margens desses livros, os adesivos coloridos com que marquei as partes importantes dos livros e que os deixaram com um ar retardado de pirulito, os títulos dos capítulos e subcapítulos do meu trabalho que me dão raiva de tão improvisados, as conversas em torno do tema com que de vez em quando alguma alma bondosa tenta me animar, as minhas fichas de leitura supostamente vintage (na verdade, amadoras) feitas naquelas folhinhas pautadas com as quais o pessoal organizava ficheiros na década de 50, as minhas horas inchadas de megalomania enquanto escrevia o projeto, as minhas horas em desespero e posição fetal na frente o computador vendo um texto que só empaca, a minha escrivaninha zoneada (mas isso meio que sempre foi assim, admito), o meu interesse misterioso e súbito em pesquisar no google qualquer coisa como relógio-de-sol-como-fazer-e-como-funciona, um grande tempo desperdiçado em interesses súbitos e misteriosos como esse, enfim, tudo me desagrada e repugna.

E numa tarde dessas – depois de duas horas passadas na biblioteca da universidade, com meu computador e o arquivo da dissertação abertos, e eu em estado de semi-catatonia – fui passear pela cantina segurando um dos livros sobre o qual estou trabalhando (meu trabalho é sobre livros de literatura e inclusive isso tem me desanimado: estou escrevendo sobre ficção, quer dizer, o que tem me tirado o sono não são nem pessoas e coisas que tenham acontecido de verdade...) e encontrei lá uma amiga. Batemos papo. Até que ela olhou pro meu livro e disse (e eu percebi que não era por filantropia, era um interesse espontâneo e real): “É esse o livro que você tá estudando?” e já foi pegando nele. É literatura contemporânea, não é muita gente que conhece, então conversei um pouquinho a respeito. Foi uma coisa bem simples isso. Mas me deu um estalo pra pensar que aquilo que estou fazendo tem sim uma grande dimensão de realidade: porque tudo o que é humano, seja imaginação, sejam fatos, ocupa um lugar todo especial na realidade. E, afinal, a minha amiga perguntou pelo livro e segurou nele como se num pedaço do mundo, ou seja, como numa coisa que vale a pena. A partir disso acho que eu consigo lembrar por que foi que me apaixonei pelo meu tema de estudo. É o que vou tentar fazer nos próximos dias.
 

Bel 

25 de setembro de 2013

Do Desespero e da Paz


- Mariana?

Abri os olhos e me deparei com a T. sorridente.


- Você está bem?


Não estava tanto, dava voltas em torno de problemas que me pareciam monstruosos.
Ela continuou antes que eu respondesse qualquer coisa:


- Deve estar tudo bem, sua vida é fácil, né? Não parece nada com a minha. Sabe como é a minha, né?


Lembrei-me do nosso último encontro há quatro anos.
Aconteceu como nesse dia: eu estava sentada de olhos fechados e ela me chamou.
Só que naquela data, quando abri os olhos, me deparei com a T. em lágrimas.
T. é uma parente distante que vejo muito pouco e naquela altura não a reconheci e nem lembrava seu nome (aliás, fiquei surpresa de que ela tivesse me reconhecido).
Ela começou a compartilhar as dificuldades da vida.Tantos problemas e esses sim, monstruosos, que ela já beirava a loucura.


...


Quatro anos depois, não me lembrava mais dos detalhes, mas só a recordação da face de desespero dela me fez ver que os meus problemas eram mesmo irrelevantes.

T. continuava a falar:


-Sabe, esses dias estive doente, fiz duas cirurgias - dizia apontando para as cicatrizes na barriga - Queria morrer, pedi para Deus me levar. Não queria mais viver nesse mundo que só tem desgraça. Deus não quis me levar, acabei ficando. Estou feliz agora. Arrumei um emprego. Amanhã vamos para a praia para passar o fim de semana. Estou falando muito alto, né? Me desculpe.  A gente sempre se cruza por acaso, né? Tenho que ir, vá lá em casa me fazer uma visita…


Recuperado o silêncio, já distraída dos meus problemas, voltei a meditar de como a luta dos outros nos ajuda na nossa luta cotidiana...

Por Mari

18 de setembro de 2013

A crônica




Hoje quero compartilhar com vocês uma crônica. A crônica que todo professor acaba vivenciando na escola, diariamente, no seu cotidiano com os seus alunos.

Vamos lá... Sou estudante do quarto ano de Letras, da Universidade Federal do Paraná, e aprendi o que era crônica pela primeira vez aos 11 anos de idade, quando ainda estava na quinta série. Nunca dei muita importância para esta forma tão “corriqueira”, “cotidiana” e “pouco poética” de narrar.  Descobri em sala de aula, como professora, que nunca aprendi e internalizei tão bem este gênero. Estranhamente nós somos pagos para ensinar, contudo nós sempre somos os que mais aprendemos nessa empreitada docente. 

Meus alunos tem exatamente 11 anos, idade com a qual aprendi o que era crônica. Ensinei todos os conceitos perfeitamente. Fizemos ficha do assunto. Lemos milhões de crônicas em sala. Diferenciamos de outros gêneros. Tudo nos conformes. Alguns alunos se empenhavam mais, outros mais ou menos e outros simplesmente desprezavam a disciplina. Após todos os blas blas blas sobre crônica, pedi que eles produzissem uma, aplicando tudo o que eles aprenderam e viram nas leituras.

Todos escreveram a tal da crônica exigida pela professora. Muitos falaram de zumbis, planetas X, galáxias ainda não descobertas e extraterrestres; muitos ainda fizeram um relato pessoal, como uma espécie de diário, porém teve uma redação, sem parágrafo, com milhões de erros ortográficos, do aluno mais indisciplinado da turma, que seguiu os padrões do gênero e escreveu a tal da crônica.

A história era de um menino que viu seu pai aparecer com outra família repentinamente. De um menino que não sabia bem o que faria nos seus próximos dias já que estava sem o pai. Diálogos com a irmã narrando o horror e a tristeza cotidiana. O pai morando longe e o drama diário desse personagem que não sabia muito bem o que faria. Para muitos isso poderia ser um conto, mas para esse aluno era de fato uma crônica, já que, bem, estava contando o cotidiano de uma criança, uma criança que representava ele mesmo na vida real. A crônica, que para mim não passava de muitos conceitos fechados que serviam como uma forma de caracterizar este gênero, fez parte da vida do meu aluno, a ponto dele ter encontrado nela uma forma de mimetizar a sua vida.

Na verdade, essa tarefa que atribuí a eles me fez aprender que ser professor te faz aprender com todos os alunos, inclusive os indisciplinados e que não aparentam ser muito promissores no futuro.  Aprendi que nem sempre o melhor da sala, apesar de ter decorado ou estudado assiduamente os conteúdos, é o que compreendeu melhor. Aprendi ainda que a delícia de ser professor está justamente na surpresa que os pequenos sempre pregam na gente.

Ser professor é entrar todo dia em sala com uma aula pronta e muitas vezes perceber que na verdade a sua aula estava muito superficial para a profundidade dos seus alunos. É encontrar o amor nos olhinhos deles atentos em você. É aprender diariamente a simplicidade e a espontaneidade da vida, que a gente sempre acaba perdendo um pouco quando nos tornamos adultos. A Crônica nunca foi tão real como depois dessa redação.


Por Ana Karla Canarinos

11 de setembro de 2013

Amanhecer





Não é difícil ver envelhecer o dia quando alaranja e vai sumindo no vermelho até ser negro.
Não é pesado caminhar a juventude com a primavera dos sonhos a bater nas janelas do peito
O mais difícil é trilhar sozinho de um lado do estado, quando em outro lado está aquilo que é tão meu
Mas pela metade se vai mais que adiante, porque o amor revive, ele não cansa
O amor reacende as chamas da vida da gente na luz de cada manhã, mesmo que sejamos só a metade.

Por Luana Borsari

4 de setembro de 2013

Para você, quem é o centro do mundo?


Certa vez estava numa consulta médica desconfortavelmente (como suponho que costumam estar as pessoas tímidas) e numa tentativa de ser simpático o médico me lançou o desafio:


- Para você, quem é o centro do mundo?

Jamais tinha pensado no assunto fora das discussões do tema nas aulas de história. Fiquei um tempo em silêncio, pensando, sem conseguir chegar a uma conclusão.
Diante da minha reação, ele começou a me explicar que eu era o centro do mundo e por isso, ele e todo o resto das pessoas existiam para estar a meu serviço.


Aquela frase soou como a maior mentira que eu já tinha ouvido na vida.
Há muito tinha aprendido que o mundo existia muito bem sem a minha presença nele por séculos…

...

Um dia depois de várias reviravoltas na vida, percebi que aquela frase do médico poderia ter um fundo de verdade: morando sozinha não havia ponto de fuga, acabei por me tornar o centro (mesmo que do meu próprio mundinho) e o desafio de servir a mim mesma passou a ser uma questão de sobrevivência.


...


No fim, acho que o importante é que o amor, por si próprio e pelos outros, seja uma força maior do que as circunstâncias da vida a que estamos sujeitos...

Por Sofia

28 de agosto de 2013

Minha cunhada vai casar




Desde pequena, quando pensava no meu futuro, não pensava no meu dia, num escritório que me tornaria uma profissional bem sucedida: pensava em seis e meia da tarde.

Tô procurando a chave de casa e meia dúzia de cabecinhas me apressando. “Vai logo, mamãe, quero fazer xixi!” Abri a porta e duas bolinhas rosas entraram piruetando pela sala. Talvez toque pra elas dançarem depois da janta (aprendi piano pra tocar durante a gravidez). Entrou também uma que resolveu fazer ginástica olímpica só pra acabar com o meu coração de bailarina. Mais um moleque PRETO de tanto se jogar no chão no futebol (“direto pro chuveiro, sem encostar essa mão na parede, hein!”) e um no ombro do pai, mostrando o golpe que aprendeu no judô.
Criei uns braços a mais e fiz a janta e dei banho em metade. Hoje misturei beterraba no macarrão. “Mamãe, é da Barbie?!” “Eca, é de menina!” Como é difícil fazer essas crianças comerem! Sobremesa, todo mundo quer! E esse pai coruja ainda vive comprando sorvete... O cadeirão está vazio, a bonita não saiu do colo desde que chegou em casa (acho que estamos mimando demais essa menina).
“Anda logo, Lorenzo, só falta você! Você e os seus irmãos ainda têm que fazer o dever de casa!” Criança precisa de rotina. Depois da tarefa, historinha, santo anjo e CAMA!
Silêncio. Mas quem disse que pai e mãe se esquecem dos filhos alguma hora? Como estão lindos! Espertos, engraçadinhos, tão arteiros! Domingo a vovó não vai nem acreditar. Dente de um caindo, de outra, nascendo...

Nascendo também está uma família. Agora, em 2013. Minha cunhada vai casar. Não segurei o choro ao pensar nesse fruto tão bonito do matrimônio que é a vida, o amor. Disfarçado na rotina em forma de risadinhas.


B.M.

21 de agosto de 2013

No mar




Hoje de manhã quando eu estava no mar - diga-se de passagem: gelado, escuro, com ventos uivantes e uma garoa que caía na diagonal - comecei a refletir sobre a "unidade"... É engraçado, pois acredito que para cada pessoa ela se expresse intensamente de formas distintas. 

Todas as pessoas que eu conheço que "surfam" criam uma relação tão intensa com o oceano e com a prática que talvez só possa ser explicada pela "unidade". 

Estar no mar, depois do ponto onde as ondas quebram, sentado num lugar sagrado, onde nada nem ninguém vai te atingir (a não ser uma onda talvez rs), olhando para o aquela linha cinza entre o céu e o mar, esperando a série se formar, esperando a onda chegar... subitamente um peixe salta da água no horizonte e três pássaros passam ao teu lado num vôo rasante como se você não estivesse ali, como se - agora sim - você fizesse naturalmente parte da paisagem. 
É uma sensação espetacular... fazer parte de um todo, de uma unidade, e ser ao mesmo tempo tão insignificante e vulnerável. Mas se sentir imensamente grato por isso. 
...

Está frio. Você já não sente mais a ponta dos pés nem das orelhas. O mar nem está tão bom assim. O vento sul não perdoa. Mas lá ao longe você vê alguma coisa se formando... uma ondulação vindo na tua direção, para você, o universo está te dando um presente. Você começa a nadar, sente ela te puxando para trás. Você está mais alto e ela te desafia. É preciso levantar, agora. Toda a força do teu corpo te impulsiona para ficar em pé. Você sente um frio na barriga e desce, em pé, o presente que o oceano trouxe especialmente para você. Agora é só aproveitar, 5 segundos que parecem uma eternidade. Você olha para trás e teus amigos comemoram, felizes por você ter merecido aquele presente.   
...

Teus medos, ansiedades e angústias foram temporariamente lavados pelo mar. Você se sente mais completo, mais único, mais vivo. Nada te faria mais feliz naquele momento do que aquela onda.


Por Isabel Ziesemer Costa